sábado, 28 de maio de 2011

Mitos e Logos


O novo modo de pensar – o pensamento racional e filosófico – é geralmente considerado como o oposto ao pensamento mítico. Numa certa época, na Grécia do século VI a.C., o pensamento humano teria se libertado das fantasias pueris da mitologia e da religião para se afirmar e se desenvolver racionalmente. Como mostra Jea-Pierre Vermont a relação entre o mito e o logos (razão) é muito mais complexo: “os filósofos não precisaram inventar um sistema de explicação do mundo, acharam-no pronto.” Exemplo:na descrição da origem do universo feita por Hesíodo em Teogonia – de fato, os primeiros filósofos apenas traduzem para outras palavras a mesma inquietação de Hesíodo: a relação entre o caos e a ordem do mundo. E para explicá-la eles não fazem mais do que reduzir os deuses da mitologia às formas da natureza (terra, ar, água, etc.) que representam. 

Diferença entre o pensamento mítico e o racional dos primeiros filósofos A mitologia exprimia na forma divina e celestial todo o conjunto de relações, seja dos homens entre si, seja entre o homem e a natureza. Assim, os deuses são criadores do mundo; de forma análoga, o rei era considerado o criador da ordem social e regulador do ciclo da natureza. O mundo divino, as relações sociais e o ritmo da natureza confundiam-se, estando todos submetidos ao comando do rei. Por isso, a mitologia apenas narra a sucessão de fenômenos divinos, naturais e humanos. Ela não os explica, pois a explicação já está dada pelo poder do rei. Modificação desse quadro Com o desaparecimento do rei divino, a polis surge como uma criação da vontade humana.

Os acontecimentos do mundo que eram considerados como realizações do rei (e dos deuses) perdem a base de explicação. Tornam-se problemas. Para resolvê-los o homem deve valer-se do meio que ele próprio desenvolveu ao criar a polis: o logos, a razão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário